terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Malícia: irmã mais velha da ingenuidade

Reprodução: Google Imagem
Metrô de Nova York, pleno verão, lá estava ele na estação de Manhattan, impossível não reconhecer de costas. De repente um frio me bateu na barriga, um susto, ao lado dele uma mulher de cabelo curto, vestido largo e longo, fui descendo meus olhos e o inevitável, os dois de mãos dadas.

Não tinha como negar que era ele, conhecia aquelas costas, aquele cabelo preto, enrolado como de um anjo e a lateral do rosto dava pra ver a barba bagunçada.

Naquele momento eu tive um misto de inconformação, crueldade, provocação. E é claro que fiz questão de entrar no mesmo vagão. Queria que ele me visse.

A surpresa maior foi o cara a cara. E como se não bastasse ela estava grávida, barriga enorme, rosto inchado, bem naquele período que a mulher perde um pouco do glamour.

Ele, branco como uma vela ao me ver. Rapidamente inventou algo pra fazer e soltou das mãos dela. Tentou mudar de lugar, mas ela não quis, já eu fiz questão de sentar de frente e assistir de camarote ele tão sem graça. 

Foram algumas estações incômodas, pra ele claro. Enquanto isso, minha mente pensava em mil coisas a seu respeito em um só segundo.
Por fim, cheguei no Brooklyn, era minha hora de descer e eles seguiriam. 

Engraçado falar assim, dá até a impressão que algum dia eu havia tocado seus lábios ou vivido uma noite de amor com ele.

Na verdade nosso primeiro "encontro" foi ontem, ele me viu na entrada da estação, por algum motivo nos atraímos apenas por um olhar, ele me seguiu, entrou no meu vagão e me despia apenas com os olhos, observando todos os meus movimentos. 

Por alguns instantes achei que ele viria falar comigo, que talvez nunca mais nos largássemos, sua inquietação com a minha presença era nítida, parecia até que ele era livre para amar, livre para ser meu, apenas livre.

Mas como sempre, hoje desci no Brooklyn e ele continuou seu caminho, não trocamos se quer uma palavra. Achei que nunca mais eu cruzaria com aquele homem que me olhou de uma maneira tão intensa que ilustravam uma intimidade entre nós. Mas a vida colocou ele perto de mim de novo e dessa vez a prova viva de que ele nunca foi meu.

Fora dali me dei conta que mais uma vez cruzei com um daqueles amores platônicos de metrô. -VR